22/04/2017

Sobre o Que é Fácil

A rapidez, a ligeireza e a facilidade com que se diz e escreve a palavra ‘obrigar’ ou ‘proibir’ espanta-me.
Há algo de perverso nesse instinto quase automático de obrigar ou proibir (os outros, claro) de cada vez que a incerteza aparece. Há perigo neste fácil exercício de autoridade para o qual se encontram diversas e pertinentes justificações - tenham elas a forma de ataques terroristas, ou de sarampo. Percebo também muita ignorância nessa pretensão de que acreditemos que, fazendo os outros exactamente, e só exactamente, o que consideramos apropriado fazer, será possível viver numa sociedade sem riscos, num mundo ‘limpo’ e impoluto. 

A História tem-nos ensinado vezes sem conta o preço que se paga para viver em sociedade dessa forma ‘limpa’. O passar do tempo acaba por revelar de forma impiedosa o que sempre e inevitavelmente está por trás da fachada de cada sociedade ‘limpa’: quanto mais ‘limpa’, mais ‘gulags’ são encontrados. Hoje limitamos os direitos do outro, amanhã limitam os nossos, é sempre assim. 

A liberdade é um bem que não é prezado no nosso país onde tão facilmente se desliza para a limitação das liberdades individuais. Esse pouco respeito que lhe vocacionamos reflecte-se no que se diz e no que se lê, que são cada vez mais fruto do imediatismo (a medida de tempo agora adoptada), das fáceis e rentáveis escolhas editoriais, da tão pouca reflexão, ponderação e debate. É tão mais fácil instigar a proibição e a obrigação do que avaliar as suas consequências - algo que é mais complexo, demora tempo, não é consensual, implica negociação e cedências, e dá trabalho. Viver em sociedade é complexo, e talvez não fosse mau reler Sartre e repensar a essência e a medida da liberdade, nossa e dos outros; quem sabe esse exercício ajude a perceber que a vida numa sociedade democrática e que respeite as liberdades individuais é sinónimo de algum risco, é aceitar que há sempre factores imponderáveis que nunca serão totalmente controlados e controláveis. Mas não é isso mesmo a vida?

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