22/03/2017

Milhões

Milhões é uma palavra que se tem ouvido amiúde em tempos recentes, e normalmente na forma de dezenas de.
Os milhões deste, do outro, ou ainda daquele daquele outro, vistos nas declarações de rendimentos relutantemente entregues ao Tribunal Constitucional e que ficaram finalmente disponíveis a olhares curiosos, perdão, disponíveis para consulta. Posteriormente – e já que se consultam uns - porque não consultar mais uns tantos? De repente, e sem nada que nos prepare, somos bombardeados por dezenas de milhões e ficamos todos um pouco mais esclarecidos, atordoados e mais perplexos também. Como se não bastassem esses esclarecimentos, vieram à luz do dia mais alguns milhões, desses cujas notícias nos vão regularmente chegando, que trocaram de mãos no seio do mais famoso triângulo das Bermudas português cujos vértices dão pelo nome de Sócrates, Espirito Santo, e PT. Nomes, todos eles inspiradores, há que convir. 

Das dezenas, num instante se passam aos milhares de, quando se fala da Caixa Geral de Depósitos. Já começa a ser demais, e por estes dias a indigestão e profunda náusea provocada pelos milhões é difícil de evitar. É tão mais fácil não sabermos certas coisas. Não nos deixávamos tentar pela luta de classes, que julgávamos irremediavelmente démodé. Não dávamos por nós a acenar disfarçadamente a cabeça de cada vez que uma voz populista – no nosso caso vêm normalmente do BE – se insurge e diz uns truísmos saídos do ressabiamento. Tantos milhões atordoam é certo, há que manter o norte e refrescar a mente. 

O vento fresco na cara pela manhã; olhar sempre em frente. Sabemos logo as outras matérias de que é feita a vida. As que fazem toda a diferença.

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