08/02/2017

The Crown Must Win

Também é interessante ver na série The Crown a forma como se tecem as relações entre as pessoas, dentro da mesma família sobretudo com o Duque de Edimburgo, entre a Rainha e o Staff, ou com o primeiro-ministro,
neste caso Winston Churchill, uma figura importante na formação da rainha e interessante como personagem. Há diálogos imperdíveis com Churchill, mas o papel dele como aquele que ‘prepara’ a rainha para ser ‘Rainha’ (The Dignified) e lidar com o governo (The Efficient), sendo ambas funções fundamentais para a sociedade, é memorável. O primeiro encontro entre os dois em que Churchil se recusa a sentar (porque com o Rei nunca se sentava, mas ambos conversavam de pé) mas a Rainha permanece sentada é um sinal de como Elizabeth vai entranhando e estabelecendo o seu estatuto de Regina. 

As relações entre o Staff e o Rei (George VI) e depois a Rainha são também um foco de atenção: o staff é mais leal à instituição The Crown (e às suas carreiras) do que à pessoa do Rei ou da Rainha.

No entanto são as relações familiares (que como diz o Duque de Windsor, “when you’re in you’re never quite sure you’re in, but when you’re out there is no doubt at all. You’re out”) entre a Elizabeth, a Rainha Mary, a Rainha Mãe, a irmã, e Philip que dão uma visão e dinamismo muito próprios a esta série, onde o que concebemos como normalidade em termos de relações familiares, são continuamente postas em causa, porque vistas de um prima tão específico. 

De todas as pessoas a Rainha bebe e se vai moldando e aprendendo a ser Rainha (The Crown) – muitas vezes até, contra a sua própria vontade, instinto, natureza, 

To do nothing is the hardest job of all. And it will take every ounce of energy that you have. To be impartial is not natural, not human. People will always want you to smile or agree or frown. And the minute you do, you will have declared a position. A point of view. And that is the one thing as sovereign that you are not entitled to do. The less you do, the less you say or agree or smile...” “Or think? Or feel? Or breathe? Or exist?” “The better.” (excerto de um diálogo com a Rainha Mary)

porque Elizabeth Mountbatten deixa de existir, para dar lugar a Elizabeth Regina. 

While you mourn your father, you must also mourn someone else. Elizabeth Mountbatten. For she has now been replaced by another person, Elizabeth Regina. The two Elizabeths will frequently be in conflict with one another. The fact is, the Crown must win. Must always win.” (Queen Mary) 

Esta dicotomia é especialmente relevante na sua relação com o marido. No primeiro episódio o Rei George VI previne Philip, quando este se casa com Elizabeth, que ele desaparecerá e fala do seu desaparecimento como de um gesto (obrigação?) patriótico. 

“You understand, the titles, the dukedom. They’re not the job. She is the job. She is the essence of your duty. Loving her. Protecting her. Of course, you’ll miss your career. But doing this for her, doing this for me, there may be no greater act of patriotism. Or love.” 

Este desaparecer não é fácil para um homem de personalidade forte como Philip que tem dificuldade em se ‘apagar’ (e ainda mais em ajoelhar-se perante a sua mulher, que por acaso é a Rainha, no dia da Coroação) e a sua inadequação começa a ser evidente: 

“What kind of marriage is this? What kind of family? You’ve taken my career from me, you’ve taken my home. You’ve taken my name. I thought we were in this together.”

Desabafa ele à sua mulher, que agora é a Rainha, um ente mais descaracterizado do que aquele que ele conheceu e com quem se casou. Ele vive mal esta dicotomia e a relação entre o casal modifica-se, e a frustração e ressentimento de Philip são visíveis, bem como a tensão que aumenta. Há várias tentativas de o envolver activamente em matérias da Coroa, mas ele é demasiado moderno, espontâneo e informal e nem sempre consegue o que pretende. Philip parece nunca ‘encaixar’. Chega um ponto (no último episódio) em que a Rainha acha que um afastamento lhe faria bem e propõe que ele vá aos Jogos Olímpicos à Australia. Ele percebe a intenção, e faz-lhe notar isso com um seco: 

“Don’t dress betrayal up as a favour”.

No comments: